28 outubro 2007

A Naifa e afins

Uma das coisas que mais gosto de fazer é de conhecer artistas através de outros. Uma das ligações deste género que mais gozo me deu seguir foi relacionada com A Naifa. A Naifa é uma das maiores e melhores bandas portuguesas da actualidade (digo eu). Foi através deles que conheci outras bandas e novos poetas. Vou tentar levar-vos pelos mesmos caminhos. Tenho tido dificuldade em terminar este post, por isso, vou mudar o esquema que estava a utilizar e esperar que assim funcione. Cá vai.

A Naifa. Conheci-os pela música Meteorológica. É uma música que resume tudo o que são. Uma banda de fado contemporâneo, diga-se. Têm a guitarra portuguesa, do Luis Varatojo (Despe e Siga, Peste e Sida), o baixo do João Aguardela, alguns samples e alguma electrónica simples, a bateria e a voz da Maria Antónia Mendes, mais conhecida por Mitó, que me deixa completamente absorvida nos concertos ao vivo pela voz, pela presença em palco, pelo gesto lento das mãos (eu gosto de olhar para essas coisas...). Já os vi imensas vezes ao vivo, em Lisboa, Setúbal, Faro e Loures(? já não sei bem) e é sempre tão bom... Lançaram já dois álbuns, Canções Subterrâneas e 3 Minutos Antes da Maré Encher, e, para além da originalidade simples das músicas, do espírito potuguês tão presente (o som de fundo de um café algures em Lisboa, talvez, em certas músicas), ficaram-me as letras. Pegam em poemas de autores contemporâneos e musicam certos versos que nunca julgaria ser possível soar bem numa música. Foi o caso da Meteorológica com o "Que dia tão bonito e eu não fornico" da fabulosa...

Adília Lopes. São poemas muito... urbanos, digamos. São simples na sua forma e muito directos na sua mensagem. Arranjei o livro Caras Baratas e rio-me tanto com alguns poemas, com a ironia ou falta dela, é fabuloso. A história dela é muito interessante, ela tirou o curso de Física e depois tirou um curso de Letras, já não sei bem qual (vejam no wikipedia...). Tem uma grande paixão por gatos. Deixo-vos com um dos poemas que A Naifa toca para perceberem o estilo.

Porque me traíste tanto

porque tenho eu
frieiras se nunca tiro as luvas?
porque tenho eu arranhões
se os meus gatos são meigos?
como dizia uma pobre rapariga
que era criada e mal sabia ler
também eu vou dizer
coração partido
pé dormente
vou para a cama
que estou doente
porque me traíste tanto
se os meus gatos são meigos?
porque me traíste tanto
se eu nunca tiro as luvas?
José Luís Peixoto. Conheci-o pelo livro Nenhum Olhar. É um dos meus livros favoritos, pelo ambiente, pelas personagens, pelos sitios que me recordou e onde a história se desenrolava na minha imaginação. Encontrei a poesia dele apenas quando conheci A Naifa. Juntamente com Adília Lopes, é o autor das letras das minhas músicas favoritas deles. Transmite a sensação com que gosto de ficar depois de ler alguma coisa. É o meu espaço. Deixo-vos mais um poema/letra dele.

Quando os nossos corpos se separaram
quando os nossos corpos se separaram olhámo-nos quase a desejar ser felizes.
vesti-me devagar, mas o corpo a ser ridículo. disse espero que encontres um homem
que te ame, e ambos baixámos o olhar por sabermos que esse homem não existe.
despedimo-nos. tu ficaste para sempre deitada na cama e nua, eu saí para sempre
na noite. olhámo-nos pela última vez e despedimo-nos sem sequer nos conhecermos.
Mler Ife Dada. A Naifa, nos seus concertos, costuma também tocar covers de várias bandas e eu, como fã aplicada, decidi procurar as versões originais e encontrei bandas portuguesas tão giras. Uma delas foi Mler Ife Dada, pela música Alfama. Esta banda é bem antiga, da altura do nosso nascimento, e foi muito popular. Parece que era realmente muito gira porque até o meu pai gosta. Vejam aqui o video e oiçam a música mais conhecida deles. A voz é da Anabela Duarte, que editou agora um album de covers de Boris Vian e assim, que gosta muito de brincar com a voz, e têm letras tão parvas às vezes. Tenho um album, quem quiser ouvir mais diga-me.
Três Tristes Tigres. Todos já ouvimos falar desta banda e todos conhecemos os singles. Alguns vá, o Zap Canal, por exemplo. A Naifa fez uma cover da música Subida aos Céus e eu decidi arranjar um album deles. Fiquei tão surpreendida. Não são o pop que eu julgava, são estranhos como eu gosto! Aconselho-vos a explorar TTT mais um pouco se não conhecerem essa faceta deles. Eu posso ajudar.
Vá, eu podia continuar mas fico-me por aqui. Queria só dizer que graças a A Naifa conheci também valter hugo mãe (é mesmo sem maiúsculas), a Desfolhada, a Tourada, algumas músicas de Amália, uma de GNR e a sala de espectáculos de Faro... O que é nacional é bom!
PS:Não percebo porque não consigo formatar isto como deve ser... Peço desculpa.

Exposição no palácio nacional da Ajuda

Abiu na 6ª feira, dia 26 de Outubro, na ala D. Luis I do pálacio nacional da Ajuda, a exposição "Arte e cultura do Império Russo nas coleções do Hermitage, de Pedro, o grande a Nicolau II". Esta exposição abrange várias obras de arte do famoso museu Russo, provinientes da corte dos Romanov, e é uma portunidade única de conhecer um pouco melhor a Historia da Rússia, que muitas vezes nos é tão inacessivel. Os bilhetes da exposição custam 6 euros, e os bilhetes conjunto da exposição do pálacio nacional da Ajuda custam 8 euros. O preço é relativamente acessivel e pode garantir uma tarde bem passada.

Gregor Mendel (1822-1884)


Inspirada pelas aulas de genética hoje resolvi dedicar este post ao pai da genética, Gergor Mendel. Mendel nasceu no império Austro-húngaro, na actual República Checa. Estudou física e matemática na Universidade de Viena e era monge no mosteiro de S. Tomás em Brno (hoje a segunda cidade da República Checa). Este mosteiro tinha de particular o facto de muitos dos seus monges de dedicarem ao ensino e à investigação cientifica e seguindo esta tradição Mendel passou vários anos a estudar ervilhas e o modo como determinadas características eram transmitidas às gerações seguintes. Mendel efectuou o seu estudo de um modo extremamente metódico e rigoroso usando os seus vastos conhecimentos de matemática e botânica, e dos seus estudos surgiram as duas leis de Mendel que ainda hoje são leis fundamentais da hereditariedade, aquela que estuda a passagem de determinado gene à descendência, chamada em sua homenagem hereditariedade mendeliana. A sua primeira lei, a lei da segregação e diz que durante a formação de gâmetas cada par de alelos separa-se e apenas um deles entra da constituição genética desse gâmeta, e essa separação ocorre ao acaso. A segunda lei de Mendel ou lei da segregação independente, diz que a separação de cada um dos pares de alelos ocorre de modo independente, ou seja a separação de um par de alelos não influencia a separação dos restantes. Mendel foi o primeiro a utilizar as designações de alelo dominante, descrevendo aqueles que se manisfestam mesmo apenas com uma cópia, e alelos recessivos que apenas se manifestam estam presentes duas cópias. Também a ele se devem as designações homozigótico (aqueles cujos dois alelos do mesmo par são idênticos) e heterozigótico (aqueles cujo par de alelos é formado por dois alelos diferentes). O reconhecimento das suas descobertas durante a sua vida foi bastante limitada e Mendel desiludido decidiu dedicar-se ao mosteiro, chegando a ser abade do mesmo. A importância das descobertas de Mendel só foi reconhecida no início do século XX. (Fontes consultadas: A Breve Historia de Quase Tudo; Human Genetics: Concepts and applications)

26 outubro 2007

Pausas Musicais

No momento em que o nosso blog completa precisamente três meses, um dia, vinte e duas horas, cinquenta e oito minutos e mais alguns segundos, eis o post mais aguardado da nossa curta história! Sim, o meu primeiro post! [palmas] E como havia prometido, esta minha primeira pseudo-dissertação vai para a área da Música e da Microbiologia. Qualquer semelhança entre estas duas áreas é, de facto, uma grande coincidência. Ora digam lá se não é bonito juntar os conceitos precisos e objectivos da ciência com o prazer que a música nos proporciona? Ou será melhor a fusão entre os princípios da composição musical e os casos infecciosos mais graves da história da humanidade? Bem, a verdade é que só uma mente genial como a do Professor Melo Cristino podia lembrar-se das ditas Pausas Musicais a meio das aulas teóricas de Microbiologia. E para quem não sabe como é que a coisa se processa, a explicação é muito simples: a meio da aula e para recuperar do desgaste mental normal de qualquer teórica, é realizada uma pequena pausa ao som das mais variadas obras de música clássica. Cinco minutos de puro prazer, seguidos de uma rápida exposição informativa musical e histórica sobre o tema interpretado. É estranho sim, mas nós gostamos e aprovamos (de tão estranhas que somos). Afinal, quantos de nós já confundimos uma semibreve com um coco gram-negativo? Uma colcheia com um bacilo flagelado? Talvez já vos tenha acontecido confundir a clave de sol com uma autoclave! Ou então música pimba com resíduos hospitalares do tipo III. Reparem no grande número de semelhanças entre as duas áreas! Fora de brincadeiras, ainda só presenciámos duas destas sessões musicais e estamos todos ansiosos por mais! Bem que fica mais fácil continuar com o resto da aula e mascar umas pastilhas do pingo-doce com vitaminas lipossolúveis e sem bactérias, espero!

For the record:
Pausa musical #1 – Haendel
Pausa Musical #2 – Mozart

Cumprimentos musicais e microbiológicos!


24 outubro 2007

Enquanto esperamos...

...pelos posts há muito prometidos, aproveito para revelar as soluções dos meus desafios cinematográficos. Ora cá vai então:

Pappa tomato, Mamma tomato and Baby tomato, walking down the street. Baby tomato get's a bit behind and Pappa tomato goes back to him and squishes Baby tomato . Pappa tomato says to Baby tomato "catch up".
Pulp Fiction

"What does he do for a living?
Lies."
Little Children
[Devia ter comentado este filme aqui, mas fica só a nota de que é um filme muito inteligente, com um humor incrível (este pequeno excerto tem mais piada em contexto, mas só por si já vale a pena) e no fim fiquei com a ideia que o livro deve estar muito bem escrito. Ficou feita a crítica.)]

Existe por aí ainda um desafio por ser revelado, mas como não fui eu que o lancei vou aguardar que a Adek se encarregue de o fazer, apesar de, entretanto, já ter presenciado na cinemateca o excerto do filme referido no desafio. Até breve, secantes!

01 outubro 2007

Virginia Woolf

Caríssimas,

considero-me muito em falta por, decorridos alguns meses desde o início deste blog, ainda não ter apresentado nenhuma sugestão literária decentemente. E, obviamente, quando me decido a fazê-lo, opto por vos falar da minha querida Virginia. Vou-vos fazer o meu precurso até ela...
Começo por As Horas. Como todas sabem (ou virão a saber), é o *meu* filme. É dele que surge a Laura Brown. Calha sempre em conversa quando começo a discutir filmes. Para quem ainda não sabe (ou seja, nenhuma de vós), é a história de três mulheres em épocas diferentes que no fundo estão todas ligadas. Eu não sei falar muito do filme, só vos posso dizer que tem tantos detalhes tão bonitos, tantos gestos e momentos e imagens, e aquela banda sonora também ajuda (Philip Glass, também é capaz de calhar em conversa). Para conhecerem eu, Laura, conheçam aquela Laura. Bem, não é essencial, mas eu aconselho. E eu acabo sempre a falar daquela Laura e convém que saibam do que estou a falar. Ou não. Mas vejam o filme, pronto. Óscar de Melhor Actriz para Nicole Kidman, que com aquele nariz fica irreconhecível, e três Globos de Ouro (que para mim contam muito mais...), entre eles Melhor Filme, se não estou em erro. Eu empresto se for preciso...

Depois de ver o filme, fiquei ainda com mais vontade de ler Virginia Woolf. Comecei, claro, pela Mrs Dalloway (ver filme para compreender). Li em inglês e desde o início soube-me tão bem ouvir aquela lingua na cabeça, gostava de ler baixinho só para mim, para me deliciar, porque a escrita da Virginia, a forma como soa, é das coisas que mais gosto nela. Adorei o livro, há algumas passagens que gostei tanto, conhecer a Sally Seaton e o outro, que já não me lembro o nome, e o outro casal que aparece no livro que supostamente não tem relação com a Mrs Dalloway. Foi engraçado ler o livro depois de ver o filme porque houve coisas que associei, para quem estiver a ler *cof* Amanda *cof* é favor tomar especial atenção aos nomes.

Seguiu-se um livro que me foi emprestado e mais tarde oferecido e que até hoje é o meu livro favorito. E eu não gosto de favoritismos. Orlando. Li-o em português e mal li a primeira frase julguei que não ia suportar o brasileirismo. Mas felizmente foi só a primeira frase. Tenho a certeza que me teria deliciado muito mais em inglês, mas não sei como é que isso seria possível depois de todo o extase a ler este livro. Foi das poucas vezes que tive de parar de ler porque estava de tal forma entusiasmada e arrebatada pela escrita e história que tinha de sair de lá para pensar para mim "Isto é tão genial!". Apetece-me contar a toda a gente porquê, contar todos os pormenores, mas eu sou incapaz de ser spoiller. Por isso, só vos digo, leiam! "Mas é sobre o quê?" É a biografia do Orlando. E não consigo dizer mais. Eu li o livro sem fazer a miníma ideia sobre o que era e o que ia acontecer e acredito que se soubesse não teria sabido tão bem. Não vale apenas pela história, que é perfeita para qualquer escritor, (ai não posso explicar! quando lerem eu explico-vos), mas pela escrita, pela forma como a Virginia fala connosco, tão perto, tão informal mas ao mesmo tempo tão elegante... E não digo mais.

Depois do Orlando, descansei um pouco da Virginia. Li uns pequenos textos dela agora há pouco tempo e soube-me mesmo bem recordá-la. A partir dela conheci a Katherine Mansfield, que também adoro, acho que a escrita dela é muito parecida com aquilo que eu gostava e gosto de escrever. Queria agora conhecer o resto do Bloomsbury group, o grupo de intelectuais de onde a Virginia fazia parte nos anos 20, gostava tanto de ter conhecido esta gente se tivesse nascido nessa altura. E vou terminar agora a minha palestra. Prometo que as próximas serão mais pequenas porque nada me faz vibrar tanto quanto isto. Mentira. Mas é para não se assustarem. Boas leituras!